05 JUNHO 2019 - Toda vez que um novo altar começa a habitar uma igreja histórica, as polêmicas são inevitáveis, como a de Claudio Parmiggiani em Gallarate e, mais recentemente, a adaptação litúrgica da catedral de Pescia. 

Ao tema das novas realizações foi dedicada a tarde do segundo dia da Convenção Litúrgica de Bose, dedicada ao altar. A reportagem é de Alessandro Beltrami, publicada por Avvenire, 01-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Um processo de design delicado que envolve múltiplos níveis e envolve diferentes visões da ação litúrgica. E, no entanto, recorda Michele De Lucchi, um dos mais importantes arquitetos e designers italianos, não se pode esquecer que "um altar é um objeto. Eu sou alguém que faz objetos, todos nós fazemos objetos. As grandes obras da arquitetura bem como as canetas esferográficas são objetos aos quais damos significados diferentes, às vezes funcionais e, às vezes, simbólicos. Nós, homens, temos imaginação e a cultivamos continuamente. Sem imaginação, não conseguimos conversar uns com os outros. O altar é o objeto mais impregnado de valores simbólicos e de imaginação que o homem já criou. Há um aspecto que sempre me impressionou no altar: que é um objeto que cria espaço. Nunca o contrário. E é um espaço de imaginação". No entanto, a densidade do objeto-altar está aberta a muitas interpretações: formais e teológicas. Elas foram revisadas numa extensa análise por Bert Daelemans, jesuíta, teólogo e arquiteto, professor de teologia dos sacramentos na Universidade Pontifícia Comillas em Madri. Daelemans partiu da forma dos altares para a relação entre o púlpito e o altar "que põe em movimento uma comunidade da Palavra para o Corpo".

Em primeiro lugar, existe uma estreita relação entre altar e cruz. Na Catedral de Faenza, por exemplo, Giorgio Gualdrini esculpe o altar branco com uma cruz em folha de ouro "como feridas de glória". Na Eslovênia, o arquiteto jesuíta Robert Dolinar preenche toda a parede do fundo com a cruz, enquanto o altar de pedra é atravessado por fraturas cristológicas. Há também casos problemáticos, especialmente entre os exemplos que valorizam a leitura do altar como "a mesa do Senhor". Alguns valorizam essa dimensão através dos materiais, como a madeira, e na forma da mesa móvel, mesmo em linha oposta às indicações canônicas. Mas uma mesa de madeira é realmente suficiente? "Não pode ser reduzida a uma dimensão convivial: como escreve João Paulo II, ‘a mesa eucarística é de fato uma mesa sagrada’".

Casos complexos também aqueles em que a conexão entre a liturgia da Palavra e a Eucaristia é resolvida fundindo altar e púlpito ou igualando-os sem hierarquia: "A unidade exige um desdobramento distinto".

Eis, então, que Daelemans analisa alguns casos em que a assembleia é chamada ao movimento através de articulações complexas do espaço. O caso mais "extraordinário porque absolutamente nada foi mudado na estrutura da construção, mas toda a experiência espacial, litúrgica e espiritual muda graças a um uso litúrgico distinto do espaço" é o da igreja do convento de La Tourette, de Le Corbusier. “Existem dois espaços bem diferenciados, com o coro inferior e a parte elevada centrada no altar monumental. Hoje, uma assembleia eucarística é colocada no coro para a liturgia da Palavra: o púlpito de madeira é orientado para o altar. Para a liturgia eucarística, a assembleia se desloca e se reúne em pé ao redor do altar. Os dois polos da celebração eucarística permanecem bem diferenciados e vinculados, mas não equilibrados, porque não se trata de duas mesas de mesmo nível”.

Uma leitura centrada, ao contrário, em soluções linguísticas é a de Micol Forti, diretora da Coleção de Arte Contemporânea dos Museus do Vaticano, que focou seu olhar na Itália e nos altares executados por artistas. A historiadora da arte recordou as indicações oferecidas pelo Vaticano II que pedem "nobre simplicidade", um parâmetro através do qual analisa primeiro alguns altares inseridos em adaptações litúrgicas tão marcadas pela linguagem figurativa quanto abstrata, tanto em contextos históricos como em novas igrejas. Em relação a aqueles figurativos, Forti afirma que se sente “em dificuldades: estas obras sofrem de uma ausência de silêncio. O que não quer dizer renunciar à figuração, mas raciocinar sobre um equilíbrio primeiramente interno e depois externo do espaço”. Um caso diferente, no entanto, é o de Vangi: "Estamos dentro de uma linguagem figurativa, mas intencionalmente não narrativa". São intervenções que geraram polêmica: “A questão da intocabilidade? Isso só será resolvido continuando com as tentativas. Não colocar nada ou colocar uma simples mesa não é a solução". Sobre o que ela define "vertente neobizantina", simbolizada pelas obras do padre Rupnik, observa Forti "consegue tecer harmonia de mobiliário e boa recepção por parte da comunidade, um valor simbólico que a comunidade percebe, mas não dissolve. E não se sente excluída”. Não faltam também casos problemáticos entre os exemplos de linguagem geométrica, mas assinala entre as intervenções mais bem-sucedidas, as obras de Airò e Arienti em Sedrina ("audaciosas e equilibradas").

Finalmente termina com o mais marcante dos casus belli: o altar de Gallarate. Deixando o juízo suspenso: "É preciso lembrar que, para julgar uma obra ou uma arquitetura, devemos vê-la, atravessá-la fisicamente. Nenhuma experiência espiritual pode acontecer através das imagens”. Mas acima de tudo, o altar de Parmiggiani "é um desafio, uma prova concreta de que devemos agir. A contratação de obras sagradas cresce, mas é sempre tímida. A recíproca relação entre a arte e a Igreja requer colaboração, honestidade e coragem. O que precisamos fazer é olhar para frente, olhar para longe".

Fonte: www.ihu.unisinos.br