16 MAR 2022 - Entre os dias 13 e 15 de março, os bispos do Regional Sul 2 da CNBB estiveram reunidos em Assembleia na Colônia Marcelino, São José dos Pinhais, pertencente a Metropolia Católica Ucraniana.

 

No domingo (13) os bispos participaram da Divina Liturgia no Rito Bizantino Greco Católico na Paróquia Santíssima Trindade localizada na Colônia Marcelino. A missa de abertura foi presidida pelo arcebispo da Metropolia Católica Ucraniana São João Batista, Dom Volodemer Koubetch, e concelebrado pelos bispos e sacerdotes presentes. A própria comunidade também estava presente. Após a missa os bispos foram recepcionados no salão da comunidade para um jantar com comidas tipicas ucranianas seguido de apresentação cultural. 

Os trabalhos da Assembleia dos bispos se intensificou na segunda-feira o dia todo e na terça-feira pela manhã. Após longo período durante a pandemia os encontros aconteceram de forma online. Agora os bispos reuniram-se no modo presencial. A casa de retiros Nossa Senhora do Amparo que fica ao lado da Igreja Santíssima Trindade, foi o local de hospedagem dos bispos durante a Assembleia.

Dom Celso Antônio, bispo da Diocese de São José dos Pinhais, falou da boa acolhida e a importância da convivência entre os bispos. "Fomos muito bem acolhidos pelos bispos ucranianos. O ponto alto foi logo no início, a celebração da Divina Liturgia, que foi muito bonita, solene, com vários simbolos, gestos. E o próprio encontro foi de grande relevância, uma convivência fraterna, a partilha, e o reencontro entre os bispos", destacou.

Durante a Assembleia muitos temas foram tratados. Dom Celso falou que um dos temas mais importantes foi a Missão Paulo VI, da diocese de Bafatá, na África, que a Igreja do Paraná mantém desde 2014. Outro tema foi sobre a cartilha de orientação política elaborado pelo Regional Sul 2. "Muito importante porque no mundo que nós estamos vivendo de tantos fake news e de tantas inverdades mantidas pela midia, nós temos através da cartilha uma segurança, um caminho, um projeto e uma reflexão muito importante para que possamos vivenciar de forma autêntica as eleições exercendo a nossa cidadania", explicou Dom Celso.

Outros assuntos tratados na Assembleia foram, sobre o Sinodo dos Bispos e o processo de escuta nas dioceses e arquidioceses; sobre a Assembleia do Povo de Deus que se realizará nas Províncias e a sua importância; e outros assuntos relevantes. "Esses momentos de encontro dos bispos são de capital importância para perceber que nós não trabalhamos sozinhos, ou seja, a ação evangeliadora da Igreja é um caminho sinodal, nós caminhamos juntos. Cada bispo tem sua autonomia na sua diocese, mas trabalhamos juntos, somos uma comunhão. Atraves das pastorais, dos serviços, a Igreja vai acolhendo, vai ao encontro dos mais fragilizados, dos mais necessitados. Enfim, a Igreja está  sempre em movimento, sempre em saída assim como nos evangelhos nos mostra Jesus sempre em movimento, sempre saindo e chegando, indo ao encontro das pessoas para libertar, para salvar, para ajudar as pessoas", destacou Dom Celso.

Na terça-feira (15) a Assembleia foi concluida com a Santa Missa na Capela São Pedro, na mesma comunidade de Marcelino e que pertence à Paróquia São Sebastião, Diocese de São José dos Pinhais. Dom Celso Antônio presidiu a Missa e falou na homilia, a partir da liturgia da Palavra, sobre o direito, conversão, louvor, oblação, comunhão e sinodalidade da Igreja. Confira abaixo a homilia na íntegra. Após a Santa Missa os bispos foram recepcionados no salão da comunidade São Pedro para o almoço.

 

Texto: Pe. Marcio Adriano Krefer - Pascom da Diocese de São José dos Pinhais

Fotos: Karina de Carvalho – Assessora de Comunicação da CNBB Sul 2

 

 


 

 

ASSEMBLEIA GERAL DOS BISPOS DO REGIONAL SUL 2 – CNBB
MISSA DE ENCERRAMENTO – 15 DE MARÇO DE 2022

HOMILIA

Estimados irmãos no episcopado, presbíteros, diáconos e seminaristas...Autoridades presentes...Prezados irmãos e irmãs em Cristo...

À primeira vista, a Palavra que o Senhor nos dirige nesta Liturgia pode parecer muito dura. Não estaria Ele falando aos “de fora” da Igreja, aos maus, aos promotores da guerra e da injustiça? Não estaria Ele se referindo aos que tem semeado a discórdia na comunidade eclesial, ferindo a comunhão? Não estaria o Senhor desejando alimentar em nós – homens e mulheres da Igreja – o senso de “justiceiros” em relação àqueles que lançam fora o Evangelho da vida?

No mesmo contexto, não poderia parecer sugestiva essa Palavra a nós – bispos, pastores do povo de Deus – ao final de uma Assembleia, na qual invariavelmente tratamos de tantos desafios eclesiais, sociais e políticos que, por vezes, nos tiram a paz e que gostaríamos de ver solucionados pela mão forte e poderosa do Senhor? Não nos parece um consolo do Senhor em face de nosso cansaço cotidiano, resultado da articulação e do diálogo que realizamos para mediar uma “cultura bélica” que sorrateiramente vai se incorporando à vida eclesial: progressistas vs. conservadores; tradicionalistas vs. liberais; influenciadores vs. magistério; etc. etc.

E, além disso, o que dizer da situação de guerra que estamos presenciando, sobretudo se trouxermos à memória as imagens do povo ucraniano tendo de deixar a sua terra, resistir ou esconder-se em suas cidades ou ainda daqueles que perderam a sua vida gratuitamente? Vivenciamos uma vez mais, nesse cenário de destruição e morte, o fracasso da humanidade.

Ora, a aparente negatividade das questões com as quais iniciei esta homilia – ainda que sejam reais e importantes – insere-nos num elenco de três outras perguntas, que são, estas sim, as “respostas” do Senhor para nós hoje em face de todo o contexto que vivemos, pois é sabido por nós que Jesus tinha por prática responder as perguntas que lhe eram feitas com outras perguntas.

Diz o Profeta Isaías: “Procurai o direito” (Is 1,17). Eis a primeira pergunta: “o que é o direito?” Deus não legisla sentenciando, mas ensinando: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). E continua o Profeta: “Deixai de fazer o mal! Aprendei a fazer o bem!” (Is1,16-17) O direito moderno em muito se encontra pautado na noção de sanção, punição. O direito bíblico, todavia, está fundado na justiça como restauração, como restituição da imagem e semelhança original do ser humano: “Vinde, debatamos – diz o Senhor. Ainda que vossos pecados sejam como púrpura, tornar-se-ão brancos como a neve” (Is 1,18). Aqui está o modo de agir de Deus: dialogar para salvar. Numa palavra: conversão. E isto não é para o outro “de fora” ou para condenar o errante: é para nós! A justiça de Deus é uma pedagogia e esta se chama conversão, que purifica a existência e implica uma ação: “Julgai a causa do órfão, defendei a viúva” (Is 1,17). Não é por acaso que Tiago afirma ser a verdadeira religião o cuidado dos órfãos e das viúvas (Tg 1,27), ou seja, o cuidado dos mais fragilizados, que, vez ou outra, somos também nós em nossos limites e inconsistências. CONVERTER-SE é a primeira chamada do Senhor para nós hoje.

Em seguida, diz o salmista: “Quem me oferece um sacrifício de louvor, este sim é que me honra de verdade” (Sl 49,23). A segunda pergunta: “o que é louvar?” É certo que Deus não precisa do nosso louvor, mas o substantivo que antecede este termo é o que confere sentido à pergunta: “sacrifício”. Para além das concepções reducionistas de “sacrifício”, aquela mais original encontra-se eventualmente esquecida em nosso vocabulário e em nossa prática: “oblação”. O louvor é essencialmente oblação. Oblação do quê? Oblação da vida inteira. “Não vos preocupeis com coisa alguma, mas, em toda ocasião, apresentai a Deus vossos pedidos [...] acompanhados de ação de graças”, diz o Apóstolo dos Gentios (Fp 4,6). Louvar a Deus é reconhecer que toda projeção humana e mesmo todo desígnio do Senhor só têm sentido se a vida inteira for, de fato, oblata, ainda que nas adversidades, nos desafios, nas contrariedades. É evidente que não nos é agradável, como pastores, louvar a Deus na perseguição, na ansiedade, na solidão ou mesmo nas escolhas que fazemos. Somos gente, somos pessoas humanas, dotadas de emoções e fazedores da nossa história. Mas quando nosso louvor é mais do que apenas uma menção a um objeto ou a uma situação, ele se torna oblação, entrega de si à moção, ao favor, ao influxo do Espírito de Deus, porque o mesmo “Espírito vem em socorro de nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede por nós [...]” (Rm 8,26). Assim, diante da complexidade do cenário em que estamos, Deus nos encaminha para um método: louvar sem cessar, em oblação de vida. Mas como isso ocorre na prática: o método de Deus é o discernimento. Nunca se falou tanto em discernimento, ainda que desde os Atos dos Apóstolos e Inácio de Loyola essa experiência seja proeminente na Igreja. O que é discernir senão, na oblação da vida, reconhecer o que o Espírito diz às Igrejas (cf. Ap 3,6)? Discernir não é estabelecer planos pastorais bem organizados (ainda que sejam sumamente importantes). O que antecede o discernimento dos espíritos é a ORAÇÃO DE LOUVOR encharcada de um espírito de oblação. É daí que brota a paz que excede todo entendimento (cf. Fp 4,7).

Por fim, diz Jesus acerca dos mestres da Lei e dos fariseus: “Amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,4). Eis a última pergunta: “que fardos são estes?” Infelizmente, muitos irmãos e irmãs tem se levantado contra o Papa Francisco em vista do Sínodo sobre a sinodalidade, acusando-o de supostamente subverter a ordem hierárquica da Igreja ou mesmo de relativizar a doutrina da fé. Este Sínodo, numa leitura espiritual, quer favorecer o cumprimento da palavra de Jesus: “Tomai sobre vós o meu jugo [...] pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11-29-30). Todos nós – todos mesmo – em algum momento de nossa trajetória assumimos fardos que não são nossos e depositamos fardos em outrem. O clericalismo, por exemplo, não diz respeito às atitudes do clero, mas à absolutização das funções eclesiásticas em detrimento dos carismas e dos ministérios. Todos estamos suscetíveis a nos envolver tanto com os afazeres burocráticos de nossas funções que podemos nos fechar à ação do Espírito que nos concede dons para o exercício de nosso ministério pastoral. Esta é a tentação do farisaísmo, que repercute hoje, de modo ainda mais evidente, no chamado ativismo eclesial. Nesse sentido, há um regime, um caminho, um processo, um percurso, que atualiza a pedagogia da conversão, que falamos, e se vale do método do discernimento, também já mencionado: a sinodalidade. Mesmo que muitos queiram que a Igreja seja democrática, ela não é, mas sim, ela é sinodal porque é comunhão, à luz da Trindade, plena Comunhão das Pessoas divinas. Esse é o estilo da Igreja: ser sinodal. Aí não há fardos, mas compartilhamento da missão; aí não há jugo, mas corresponsabilidade eclesial; aí não há centralização, mas unidade na diversidade dos carismas e ministérios. É curioso que, no Evangelho, Jesus nos exorta a que ninguém nos chame de “Mestre”, “Pai” e “Guia”. Como Pastores que somos, exercemos o tríplice múnus de ensinar, santificar e governar. No Espírito que dá a vida, ainda que sejamos muitas vezes contrariados, continuemos ensinando para a COMUNHÃO; santificando para a COMUNHÃO; governando para a COMUNHÃO; sim, continuemos educando o povo a nós confiado para a sinodalidade, a fim de que, como afirma a Constituição Dogmática Lumen Gentium, a luz de Cristo resplandeça no rosto da Igreja para que esta seja instrumento de íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano (LG 1).

CONVERSÃO, LOUVOR e COMUNHÃO supõe transformação interior, segundo o espírito quaresmal; uma caminhada educativa, na perspectiva da Campanha da Fraternidade; escuta do Espírito, que é o grande mote do Sínodo; e diálogo, para que o flagelo da guerra não coloque em conflito aqueles que compartilham do mesmo e único Batismo.

Nossa Senhora do Rocio, São José, os Santos e Santas padroeiros de nossas comunidades eclesiais, acompanhem-nos no caminho sinodal da Igreja que está no Paraná. Amém.

 

+Celso Antônio Marchiori