05 OUT 2022 - São Benedito, é padroeiro de uma Paróquia (Areia Branca – Mandirituba PR), de um Santuário Diocesano (Lapa - PR) e de várias capelas no território diocesano, por isso, a importância de conhecer elementos da história e da espiritualidade deste santo popular, no ano em que se completam 215 anos de sua canonização.

Conhecer a vida dos santos, na história da espiritualidade, foi sempre uma das formas de vislumbrar a santidade: olhando para a vida dos santos e santas deve-se ter a certeza de que é possível ser santos como Deus é Santo (cf. Lv 11,44). Um santo da Igreja viveu inserido em seu tempo, vivendo as dificuldades da vida e soube em meio a dificuldades, responder ao chamado de Deus. Neste ano 2022, a Igreja celebra os 215 anos da canonização deste santo.
Com Benedito de São Filadelfo (Ilha da Sicília, nascimento em 1524 – morte em 1589) não foi diferente: ele escreveu sua vida com os pés no chão da história e com os olhos voltados para o céu. Devemos lembrar que o santo é alguém concreto, um discípulo de Cristo vivendo a vida e configurando-se ao Sacramento do Batismo.

Após a morte de alguém que possuía em vida a fama de santidade, multiplicam-se os relatos de milagres e notícias sobre coisas maravilhosas atribuídas à pessoa. Para um processo de canonização, que é o procedimento da Igreja para investigar e reconhecer as virtudes de um cristão e posteriormente declará-lo como santo, é necessário muitas vezes desconstruir a biografia do santo para se chegar ao humano verdadeiro. É sobre isto que queremos destacar nos três pontos seguintes – Benedito foi plenamente humano e soube em sua vida espiritual reconhecer aquilo que é essencial para realizar na vida o Projeto de Deus:

1. A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO PESSOAL
Benedito escolheu na juventude uma vida de eremita, ou seja, viver como monge, com uma vida de mortificações (3 jejuns por semana por exemplo) e de oração intensa, com um grupo de espiritualidade franciscana fundado por Fr. Jerônimo de Lanza. A primeira vocação de Benedito era a oração silenciosa e solitária, fazendo de sua vida um intenso retiro. O santo nos inspira que na oração nos encontramos com o Amado. Os relatos de confrades que viveram com Frei Benedito testemunham que na oração contemplativa, sobretudo dedicada à adoração eucarística, o rosto dele resplandecia. A oração pessoal deve ser transformadora! Deve fazer resplandecer o rosto para os irmãos e irmãs; ela é um remédio que começa fazendo bem para quem a pratica e em um segundo momento fará bem para os que com ele convivem.

2. UMA ESPIRITUALIDADE PRÁTICA
Longe de exigir de Deus manifestações e milagres, Benedito soube viver intensamente pequenas experiências cotidianas. Era nos afazeres do convento, na acolhida das pessoas, na escuta ativa daqueles que lhe pediam conselhos e no cuidado para com os sofredores Benedito vivia uma espiritualidade de serviço. A espiritualidade de São Benedito é prática - compreendendo em tudo a manifestação divina e consagrando seus afazeres de cada dia com a máxima “Tudo fazei em Nome do Senhor, sob a proteção da Virgem e a intercessão de São Francisco de Assis”. Preparar um alimento, cuidar de um doente ou exercer uma profissão deve ser compreendido pelo cristão como um desenrolar da vontade de Deus no dia a dia. Como irmão leigo, Benedito parte de uma espiritualidade tipicamente laical de transformar o mundo nas coisas miúdas, como afirmou o texto patrístico da Carta à Diogneto, que diz: “o que é a alma no corpo, sejam no mundo os cristãos”.

3. CARIDADE COMO VIRTUDE
A caridade é a virtude comum a todos os santos, pois ela expressa que a vida interior também se concretiza em atitudes para com os mais necessitados. Benedito em seu tempo acolheu os pobres, os enfermos e aqueles que lhe pediam conselhos. Inspirados por ele, os cristãos devem pedir ao Senhor um coração caridoso, capaz de abrir-se aos sofredores deste tempo. A espiritualidade cristã inspirada em São Benedito é prática também quando consegue transformar os ingredientes do pão da Palavra e do pão da Eucaristia em pão para os pobres.
O Papa Francisco instituiu o último Domingo do Tempo Comum (Festa de Cristo Rei) para toda a Igreja como o Dia Mundial dos Pobres – que esta celebração inspire de forma comunitária ou pessoal um gesto fraterno que materialize este pequeno verso da Oração Eucarística VI-D:
“Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles. Vossa Igreja seja testemunha viva da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, para que toda a humanidade se abra à esperança de um mundo novo”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma espiritualidade encarnada inspirada pela vida dos santos, compreende que para se chegar ao Deus do céu é preciso viver em plenitude o mandamento do amor ao próximo. A espiritualidade que emana da vida de São Benedito, que reconhece que tudo na vida do batizado, sobretudo as dificuldades, deve concorrer para a honra e glória de Deus. Uma espiritualidade cristã que deve ser transmitida na alegria do discipulado e compreende que encontrou a fonte da alegria verdadeira nos gestos de servir à Deus nos irmãos.
Uma indicação bibliográfica sobre a vida de São Benedito (utilizada neste texto): NEOTTI, Clarêncio. São Benedito: homem de Deus e do povo. Aparecida, SP. Editora Santuário, 2016.

 

Diác. Márcio José Pelinski
Diácono Permanente na Diocese de São José dos Pinhais PR
Professor de Teologia Católica no Centro Univ. Internacional (UNINTER)