15 MARÇO 2024

PE. DEOLINO PEDRO BALDISSERA, SDS


Há uma canção do Pe. Zezinho que começa assim: “o silêncio está cantando uma canção de amor e paz...”

O silêncio é um ato humano que acontece de diversas formas. Há o silêncio imposto, “cala boca”; há o silêncio dos tímidos que tem medo de se manifestar; há o silêncio que procura decifrar algo que está na mente; há o silêncio dos covardes diante de injustiças praticadas; há o silêncio omisso que compactua com a maldade; há o silêncio pela ausência de barulho. Há o silêncio que procura por amor e paz!

Aqui, quero explorar dois outros silêncios necessários à vida! Aqueles que proporcionam dois encontros: Um, silêncio para encontra-se consigo mesmo! É preciso silenciar quando se quer ouvir o que há no fundo do coração. Esse, nem sempre é fácil de fazer, porque nossa mente está sempre cheia de muitas coisas, muitas preocupações, muitos pensamentos, muitas ansiedades, muitos sonhos, muitos medos, muitas fantasias. Quando se quer silenciar é preciso acalmar antes o que está agitando a mente. Desvencilhar-se das tentações que chegam de todo lado. Tentações de toda hora olhar para o celular à procura de mensagens; das tentações de saber das últimas fofocas sobre a vida alheia; das tentações de ouvir todas as músicas tocadas no spotify; das tentações de ficar alisando cabelo, olhando-se no espelho; das preocupações do que os outros estão pensando a seu respeito...

Fazer silêncio não é apenas não ouvir barulho de palavras ou outros sons. É silenciar-se! para ouvir os sussurros que gemem na alma. Silenciar é esvaziar-se de tudo, de si próprio e de tudo o que grita a sua volta. Silenciar é libertar-se dos desejos que aparecem na surdina para distrair quando se quer concentrar-se.

O encontro consigo mesmo no silêncio interior é um bem ao nosso alcance, mas custa! É necessário treinar-se para entrar nele. Quando lá chegamos, então, podemos desfrutar da voz da intimidade que nos cochicha na quietude os segredos da alma sedenta por amor e paz, como diz a canção.

Há um outro encontro que requer silêncio. Aquele com o sagrado, a intimidade em Deus. É preciso silenciar para ouvir sua voz. Diz Jesus: quando rezares entra no teu “quarto” e ali Deus que te conhece vai te ouvir. Descobrir que Ele já ali estava à espera de um encontro íntimo que se transforma em oração. Na oração silenciosa se expõe os segredos da alma. Se ela está aflita, peça a misericórdia Dele para obter a paz; se está saciada, agradeça pelas graças recebidas; se está triste implora por consolo; se se distrai, recomponha-se e retorne ao foco; se está melancólica, peça ânimo para alegrar-se; se se sente sozinha, Deus se oferece como companhia; se está desiludida, reza para reobter a virtude da esperança; Se está confusa suplica  lucidez em seus juízos, se tem sonhos, pede a força para realizá-los; se o medo a domina, suplica por  coragem; se  se sente vazia, busca por valores que valham a pena lutar por eles..

No silêncio do encontro com Deus a vida se revigora e reencontra o espírito de luta, retoma os ideais, repensa a direção dos passos, endireita os caminhos e ela fica rejuvenescida.

O silêncio é uma canção ouvida sem voz. Ele ressoa manso nas entrelinhas das outras vozes e permite os dois encontros de que a vida precisa para continuar em seus diversos afazeres cotidianos.

Assim podemos continuar cantando com Pe. Zezinho: “o silêncio está cantando uma canção de amor e paz. O silêncio está rezando uma oração por seu irmão (...) muita gente sem amor tem solidão (...) O silêncio está gritando pedindo paz, gritando amor. O silêncio está falando põe teu amor, no teu Senhor(...)”

Ouvir a voz do silêncio num mundo barulhento se faz urgência para reencontrar-se com a vida. Ouça seu coração no silêncio de seu “quarto” e ali cante suas canções de amor e paz...