15 ABRIL 2024

PE. DEOLINO PEDRO BALDISSERA, SDS


Quando estudamos geografia, ainda na escola primária, foi-nos ensinado que planetas orbitam outros planetas. Por exemplo, que a lua dá voltas em torno da terra e que a terra dá voltas em torno do sol. A orbitação se dá pela força de atração que um planeta exerce sobre o outro e sua gravidade.

A partir dessa constatação podemos imaginar e fazer comparações entre vários tipos de orbitação que ocorrem em nossa vida. Começando pelas mais simples, como por exemplo, os membros de uma família. Podemos dizer todos os membros orbitam em torno de seu núcleo familiar. Uns dependem dos outros, o amor entre si é a força de atração que os mantem unidos e interessados mutuamente. No mundo dos negócios, os que negociam entre si, orbitam atraídos, movidos pelo dinheiro; no mundo da governança, os interesses em jogo orbitam em redor da questão do poder. Quem tem mais poder exerce maior pressão sobre os que tem menos. E assim há muitas órbitas onde a vida circula. Dependendo de qual exerce maior atração a vida se inclina.  

Poderíamos dizer que precisamos lidar com vários tipos de “orbitaçao” (atração)! Há aquelas relacionadas com as relações; aquelas relacionadas às necessidades materiais; aquelas que respondem pela nossa saúde física; aquelas necessárias à saúde psíquica; aquelas vinculadas ao sentido maior para a vida. Cada uma delas exerce um poder de atração sobre nós. O grande perigo é sair do equilíbrio (órbita), se isso acontece, aí se desgoverna e pode haver colisão e comprometer tudo. O equilíbrio nem sempre é fácil de conseguir. Os astrônomos dizem que, às vezes, há colisões entre corpos celeste e há os buracos negros que engolem estrelas etc. às vezes caem meteoritos sobre a terra e grande parte deles se desintegram antes de chegar ao chão. Saíram da sua órbita e são destruídos!

Vejamos em mais detalhes algumas de nossas órbitas. Falando ainda das relações com os outros. Todos nós precisamos uns os outros. Ninguém consegue viver sozinho, orbitar em torno de si mesmo o tempo todo, ignorando a força dos outros, pode levar a autodestruição. Na relação com os outros é preciso respeitar limites para não colidir. Não posso invadir o outro ultrapassando o permitido. Caso isso aconteça, acontecem os desentendimentos e as vidas ficam à perigo. Veja-se os casos de homicídios, feminicídios, suicídios etc.  No caso daquelas relacionadas às necessidades materiais também precisamos estabelecer limites, pois, se colocamos todo nosso empenho em torno delas vamos defasar outros aspectos. Aí facilmente comprometemos a esfera psíquica. Podemos adoecer, contrair patologias que causam transtornos mentais. Todos nós queremos ser felizes. A felicidade acontece quando a vida responde por suas diferentes necessidades de forma harmônica e equilibrada.  Não podemos esquecer que uma dimensão importante é aquela ligada ao espírito, as necessidades da alma. Daí surge uma orbitação muito importante relacionada àquilo que dá sentido, a longo prazo, para a vida como um todo. Sem ter um, corremos o risco de divagar fora de espaço, meio sem rumo e a vida se desnorteia e se complica.  A órbita que está ligada ao sentido da vida tem a ver com a fé, com a religião, que respondem por essa dimensão. Só uma crença que vá além daquilo que as mãos podem manipular, e que aponte para Deus (como a terra está para o sol) pode assegurar uma órbita abrangente. Caso se fique apenas no horizonte humano é como se a terra ignorasse o sol e sua força de atração e achasse que bastaria girar em torno de si mesma.

Assim como a terra precisa orbitar em torno do sol que a aquece, ilumina, e controla sua gravitação, mantendo-a entre os diversos planetas sem se chocar com eles, assim a vida precisa de algo maior que ela que a mantenha no equilíbrio.

Por isso um cuidado especial precisamos ter com nossas órbitas. Nem todas tem o mesmo peso, o mesmo valor. Orbitar é preciso, contudo, cada uma delas deve manter-se em seu espaço e trajeto.

Muitas pessoas vivem fora de órbita, navegam desnorteados, porque não controlam suas próprias forças, as aplicam sem respeitar as proporcionalidades. Isto é, extrapolam em algumas, dando mais valor que merecem e se desconectam de outras fundamentais para o equilíbrio.

Todo ser humano precisa satisfazer diferentes tipos de necessidades, contudo não pode exagerar nos cuidados de umas em detrimento de outras. Encontrar o equilíbrio exige um esforço de discernimento.  Por isso avaliar o significado e importância de cada “órbita” (gravitação) é fundamental para controlar as rotações.

Nosso mundo anda bastante fora de “gravitação”! Enfrentamos tantos problemas de convivência desequilibrada, seja no âmbito das famílias, das comunidades, dos países. É só olhar a quantidade de guerras que existem sem controle. Veja-se Rússia vs. Ucrânia, Israel vs. Hamas. Essas são as noticiadas, há outras por esse mundo afora que saíram do interesse dos noticiários, mas existem. No âmbito do Brasil, veja-se quantos grupos se digladiando por questões políticas, de poder... Há falta de bom senso, de equilíbrio, há rotas desviadas, valores negligenciados ou distorcidos. Veja-se por exemplo, nas questões religiosas, as interpretações distorcidas das boas práticas cultuais, dos interesses mesquinhos por trás de roupagens de defensores dos altos valores. Há confusões de papéis e inversão do sentido das coisas. Parece que a força de atração não está mais fundada na paz, na convivência pacifica, no respeito às diferenças de ideias. Está se perdendo a sensibilidade humana, o outro de quem se discorda deixa de ser visto como humano, para ser tratado como ameaça e por isso se justifica sua eliminação. Temos exemplos sobrando em todos os níveis. A força gravitacional do mal, parece superar a força do bem. As consequências disso já as estamos vivendo. O mundo parece ter saído de seus eixos. Há muitas colisões desnecessárias e inúteis para o verdadeiro progresso humano. Urge uma correção de rotas e gravitações para se manter a esperança e garantir a vida para as futuras gerações.