18 JULHO 2024
PE. DEOLINO PEDRO BALDISSERA, SDS
Ser profeta não é ter o dom de adivinhar o futuro, é, antes, a capacidade de interpretar o presente à luz do que o Evangelho nos ensina. E esse é o grande desafio para todo o cristão que deseja viver a fé que recebeu no batismo. Antes de tudo o profeta é aquele que interioriza a mensagem de Deus e a vive em seu coração descobrindo nela a missão que tem para anunciar o que o Evangelho inspira. Muitas vezes, a missão é difícil, porque vai contra a corrente das ideologias que permeiam os ambientes onde se vive. Não é fácil falar a verdade em meio a tantos desafios que defendem interesses pessoais ou de grupos, que são contrários àquilo que é o desejo evangélico de que todos sejam fraternos e tenham garantias dos direitos essenciais à vida. O profeta é aquele que corre riscos de não ser compreendido, de ser perseguido e odiado pelos que se sentem questionados por seus anúncios e posturas pessoais. Nenhum profeta espere ter vida tranquila e aplausos dos destinatários de sua mensagem.
Nos profetas bíblicos encontramos essa realidade em que eles são enviados a denunciar as injustiças perpetradas no seu tempo, mormente pelas classes privilegiadas, (dirigentes, ricos, cuja riqueza proveio não do trabalho honesto, mas da exploração dos pobres, pela falsificação das balanças ...), daí ele tira algumas consequências que irão afetar o futuro, caso a situação permaneça come está. O profeta é aquele que faz uma análise aguda da situação atual com uma hermenêutica capaz de penetrar no amago dos problemas e descobrir suas causas. O profeta por vocação tem de ser corajoso e destemido. Na verdade, o verdadeiro profeta só tem uma preocupação, ser fiel à missão que recebe de Deus por intuição ou por revelação. A vocação dele é sempre um chamado que recebe e não uma escolha puramente sua. E, nisso pode-se distinguir o verdadeiro profeta do falso profeta. O verdadeiro é aquele que sente o chamado e o tira da situação em que vive e é enviado a anunciar uma mensagem que não é dele. O profeta chamado, se move numa direção que, às vezes, é contrária ao seu estilo de vida atual. Isto é, deixa de viver seu “modus vivendi” e passa a seguir um novo, cheio de obstáculos e exposições. O falso profeta é aquele que interpreta o evangelho em proveito próprio, defendendo interesses escusos, muitas vezes, patrocinados para defender vantagens para grupos que não querem que seus privilégios sejam questionados. Há uma proliferação de profetas desse tipo hoje em dia. São “profetas de Baal, de Jezebel” como os encontrados nos tempos do profeta Elias.
Diante de tantas algazarras pregadas por um sem-número de profetas, é preciso discernir quais são os verdadeiros dos falsos. O cristão é convidado ao discernimento constante diante de tantas “mensagens” que ouve ou vê nos meios de comunicação. Se aquilo que se ouve não for confrontado com o que o Evangelho realmente diz, e, se fica só numa interpretação fundamentalista desconectada da realidade, centrada nos interesses pessoais, mormente de bem estar e ganhos financeiros, o risco de pregar “falsas profecias" se torna uma realidade muito recorrente.
O verdadeiro profeta, às vezes, consola, outras, exorta, e outras ainda repreende. No fundo a profecia é dom do Espírito Santo para evangelizar. Normalmente a profecia contém uma visão do passado que ajuda a analisar o presente, indicando um caminho para o futuro. Todos os batizados carregam em si o dom da profecia. Contudo, para que ela se torne realidade, é necessário viver coerente com a vida proposta pelo batismo. O profeta é sempre um mensageiro da esperança, porque mostra que Deus nunca abandona seu povo. No próximo ano vai-se celebrar em Roma um jubileu e o lema é “Peregrinos de esperança”!
Nosso tempo precisa de profetas que consolem, pois há muitos motivos para desolação, mas, é preciso também exortem para rever caminhos e vislumbrar horizontes novos. Sejamos profetas da esperança para nosso mundo tão cheio de ameaças e medos angustiantes. Deus não abandona seu povo e sempre envia profetas para mostrar sua presença compassiva e itinerante em todos os momentos da história e, está aí a nos dizer: “Vou fazer reentrar em vós o sopro da vida para vos fazer reviver” (Ez 37,5).