24 JULHO 2024

PE. DEOLINO PEDRO BALDISSERA, SDS


Alguém me sugeriu escrever sobre a solidão. Refletindo sobre isso verifico que é uma realidade humana que, às vezes, se torna desumana. Explico-me. Todos nós, vez por outra nos deparamos com a solidão. A solidão como momento de estar consigo mesmo não é algo mau. É até necessária! É um momento para parar, refletir, tomar-se nas mãos! Ela nos põe em contato conosco mesmo, nos interroga sobre o sentido que damos à vida. É uma oportunidade de um encontro pessoal mais profundo. Ela é benéfica, pois precisamos dela para discernir, acalentar sonhos, fazer opções pessoais, nos perceber melhor. Pode ser um momento importante para uma retomada de propósitos, de correção de rumos! É oportunidade para tomar consciência da vida, percebê-la como única e que a temos uma só uma vez! Não há duas vidas terrenas que possamos escolher qual viver. É essa que temos e ponto final. O que se vai fazer dela depende de cada um, no espaço dos anos em que se vive. Nesse contexto é que a solidão se apresenta como momento necessário. Sem pensar, sem discernir, sem optar, sem decidir, a vida se torna alienante. Passa-se por ela e não se vive!  Não é assim que a desejamos. Queremos vivê-la com toda a intensidade possível dentro dos limites que nos permite o sentido que ela tem para nós. Visto por este ângulo a solidão é uma dádiva!

Contudo, a solidão pode ser também momento torturante para quem se encontra sem rumo, desiludido da vida. Essa solidão é maléfica porque maltrata a pessoa e a torna prisioneira de um “destino” de vislumbre trágico. Vários fatores podem levar a isso, entre eles podem estar àqueles causados por quem se sente ou foi abandonado ou deixado de lado e entregue a própria sorte pelos seus. Há aqueles que por decisão própria, se afastaram do convívio das pessoas, se enclausuram no seu canto e ali sofrem sua paixão. Essa solidão é danosa. Ela maltrata muito a pessoa e com o passar do tempo torna-se doentia, e aí o desânimo, a depressão podem se instalar e torná-la quase insuportável.

Encontro-me, com freqüência, com pessoas que se queixam dessa solidão. Não sabem o que fazer da vida, dizem, melhor seria morrer, para acabar de vez com isso. Que sentido tem viver assim? São pessoas à beira do desespero, porque a solidão que agora sentem, as afasta das pessoas que amam, sentem-se esquecidas, deixadas ao léu da própria sorte. Por isso não vêem mais sentido em lutar, em alimentar sonhos, em gozar dos momentos felizes. A vida se torna lamento, dor, perda, desilusão. Essa solidão é atroz, porque desfigura o ser humano naquilo que ele é e tem de melhor que é sua vida. A pessoa se torna refém de uma sorte maldita que invade seu ânimo, rouba-lhe as esperanças e o põe num caminho que o leva em marcha ré. Assim não é bom viver! A solidão assim não é um momento de encontro consigo mesmo, mas de desencontro, de distanciamento de si e dos outros.

Somos feitos uns para os outros, não para o isolamento, não para solidão! A vida requer encontro, partilha, festa, complementaridade. Nascemos vindos de alguém, crescemos para sermos alguém, para viver precisamos de alguém, e quando morrermos, queremos que seja um retorno para Alguém que nos espera e quer bem! 

Oxalá a solidão não deixe ninguém só, mas possa ser um caminho para um encontro mais profundo com aqueles de quem se separou por um momento apenas, para reencontrar-se mais plenamente!