26 DEZEMBRO 2024

PE. DEOLINO PEDRO BALDISSERA, SDS


“Ninguém tire a minha fé” foi a expressão que me impactou ao visitar seu Camilo. Encontrei-o à porta de sua casa em seu andador, segundo ele seu carro de quatro rodas! Fui visitá-lo dentro do programa da Paróquia de visitas aos doentes em preparação para o Natal. Conversando com ele me contou sobre as origens de sua fé que vem de longe das terras de Minas Gerais, aprendida no seio familiar com o testemunho do pai fiel e religioso, que desde criança, o levava à Igreja todos os domingos e ensinava e praticava a fé. Hoje seu Camilo está com dificuldades para andar e se locomover, por isso usa o andador, com ele se arrisca a sair de casa autonomamente e cuidar de seus “negócios”, ir ao médico, ir à farmácia comprar seus remédios. Seu Camilo irradia alegria e otimismo. Num dado momento de nossa conversa, afirmou com toda convicção, “posso perder tudo, mas não tirem minha fé”, (sic) para significar que sua fé é sua maior riqueza e sua segurança. Fala  dela com convicção e sem rodeios, pratica-a em suas  orações em sua casa, mas também na solidariedade com uma família carente próxima de sua casa para quem faz campanha para compor cesta básica, com a qual também ele contribui. A casa seu Camilo é simples, sua esposa controla os mais de vinte medicamentos que precisa tomar. Em sua casa não há lugar para depressão e lamentos sobre a vida. Há sim um clima leve e alegre. Gosta de contar histórias e seu referencial é sempre sua fé inabalável. Por isso ela é sua maior riqueza que “ninguém tire minha fé”! No pouco tempo que fiquei em sua casa, sai edificado. Dei-lhe a unção dos enfermos e a comunhão, que recebeu com muita piedade.

A fé praticada por seu Camilo, encontrei-a também em dona Maria, que há 46 anos, cuida de sua filha deficiente totalmente dependente, com zelo de mãe, que não se cansa dos cuidados. Também ela me disse: “vivo de minha fé”!  Seu cuidado com a filha é sua oração diária acompanhada pelas “Ave Maria” que reza ali junto à filha, porque não pode ir à Igreja. Sua casa é sua igreja doméstica, ali no cuidado da filha vive sua “religião” e pratica sua fé. Ela tem autoridade em dizer, tem 86 anos, “vivo de minha fé”. Uma fé testada ao longo dos  anos. É uma experiência consolidada, vivida na simplicidade em sua casa simples. Não ouvi nenhuma queixa por ter uma filha deficiente, vi o exemplo de sua dedicação e seu carinho com que atende todas as necessidades da filha quase imóvel.

Estamos próximos do Natal, que é a festa cristã, que nos põe diante do mistério da encarnação do Filho de Deus. Entre os diversos dons trazidos pelo Salvador está o da fé. No Natal se vive e renova a esperança da salvação, pois Deus se fez certeza no meio de nós, como diz o profeta Isaias 7,14, ele é Emanuel (Deus conosco).

Em nosso tempo, em quase em todos os lugares do mundo se faz festa no Natal, embora muitas vezes desvirtuada, sendo  apenas uma festa pagã, porque se ignora a presença do Emanuel e se reduz a comilanças e trocas de presentes, ignorando-se o significado da presença daquele que é a razão da festa!

Nosso mundo está carente de pessoas como seu Camilo e dona Maria! Muitos já perderam sua fé ou mesmo nem a receberam porque não se aproximaram e nem fizeram a experiência dela em sua vida. Muitos vivem uma fé natural, aquela necessária para levantar-se cada dia confiando apenas em seus recursos, iludidos que basta para seu caminho acreditar apenas em si mesmo de forma narcísica.

A fé é um dom que se recebe, para nós cristãos, em nosso batismo. Ela é o baluarte para todos os momentos, de alegria, de doença, de sofrimentos...

O testemunho de seu Camilo e Dona Maria, seja para nós estímulo para vivermos um Natal na fé no Emanuel. Que nenhuma ideologia contrária à verdadeira fé, nos esvazie do significado do Natal  e  com seu Camilo e dona Maria possamos também nós reafirmamos: “ninguém tire minha fé; pois, “vivo de minha fé”!  FELIZ NATAL com a fé que nasce do menino Jesus!