27 MAR 2018 - Cidade do Vaticano - "Bom domingo e bom almoço!” são os já tradicionais votos do Papa Francisco aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, ao concluir a oração do Angelus da janela do apartamento pontifício.
Por trás destes votos, um convite para fazer uma boa refeição, cuidando de si, de sua saúde, mas também sem esquecer as pessoas ao lado e partilhando o alimento com quem tem necessidade. E o Papa não se constrange em sentar à mesa com quem quer que seja, onde quer que vá. Já o vimos almoçando com pessoas pobres na Sala Paulo VI, com os funcionários no bandejão do Vaticano, com jovens em Cracóvia e em tantos outros lugares.
Ademais, por ter decidido não morar no apartamento pontifício mas viver na Casa Santa Marta, divide a mesa com hóspedes ficos e visitantes ocasionais. Citando estes exemplos e muitos outros, o italiano Roberto Alborghetti lança um olhar original sobre o primeiro Papa latino-americano com o livro "À mesa com Papa Francisco – A comida na vida de Jorge Mario Bergoglio".
Com prefácio do sobrinho Pré Ignacio Bergoglio, o livro repassa as principais etapas do caminho percorrido pelo cardeal arcebispo de Buenos Aires, desde a infância até os dias de hoje. Mas - e a originalidade do livro está nisto - é que sua história é revisitada de uma forma que conjuga alimentos terrestres com alimentos espirituais.
Desperdício
Rejeitando categoricamente qualquer desperdício, assim como as desigualdades e o consumo cego e desenfreado, o Papa privilegia a “cozinha dos restos”, que reaproveita ao máximo os alimentos, também no respeito à natureza e aos produtos, fruto do trabalho dos homens e dom de Deus.
Conta-se que certa vez, Francisco foi até a cozinha da Casa Santa Marta e disse às cozinheiras: “Por favor, não joguem fora a água do cozimento da chicória. Eu a tomo com gosto. É boa e faz bem”.
O alimento na transmissão de valores
Não poucas vezes, o Papa Francisco usou a comida e recordações da infância para transmitir valores, expressar sua preocupação com a fome ou pedir uma melhor distribuição.
Em uma homilia na Santa Marta, falou do valor e do simbolismo do pão e do pecado que era jogar fora este alimento precioso. E certa vez ao falar sobre a mentira, recordou as bolachas que sua avó preparava com uma massa leve, que cresciam muito, mas quando iam comer, estavam ocas por dentro. E “assim são as mentiras: parecem grandes, porém por dentro não têm nada, não há nada de verdadeiro ali”.
Origens italianas
Alborhetti recorda que Jorge Mario Bergoglio vem de uma modesta família ítalo-argentina, “de longas Missas dominicais” e que defende que “compartilhar a comida é um momento para próximo. É fonte de relação. É hospitalidade. E é escutar os que te rodeiam. Comer juntos é uma acção muito evocativa e simbólica”.
De fato, foram os avós piemonteses do Papa – Giovanni e Rosa - que transmitiram a ele “o saber gastronômico”, que incluída também o gosto pela polenta, pelas castanhas e maçãs, pelos “tagliolini” e os queijos. O livro, ricamente ilustrado, oferece quarenta receitas simples, da tradição popular, inspiradas por reuniões, viagens, experiências, memórias de infância do Papa : frango grelhado no forno da avó, vieiras com ervilhas e nata, costeletas ao estilo de Milão, risoto ao açafrão, pão de ló com mate e, como não poderia faltar, tradicionais receitas com carne argentina.
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