30 ABRIL 2020 - São José dos Pinhais/PR - Talvez no início deste ano você tenha feito o propósito de ler mais e, sobretudo, de ler a Bíblia Sagrada. No entanto, no meio da correria do dia a dia tal propósito permaneceu apenas como um bom desejo, uma fantasia fugaz que esvaneceu e não foi colocada em prática. (Foto: Vatican Media). 

 

E se alguém lhe perguntasse por que você não tem o hábito de leitura ou por que você não lê a Sagrada Escritura, eis a manjada desculpa: “Eu não tenho tempo!”. Para quem reclamava da falta de tempo, após a pandemia de CONVID-19, surgiu a necessidade de permanecer em casa e como consequência agora você tem mais tempo. Como você tem mais tempo agora, eu lhe proponho a leitura da Carta Apostólica APERUIT ILLIS do Papa Francisco [http://www.vatican.va/content/francesco/pt/motu_proprio/documents/papa-francesco-motu-proprio-20190930_aperuit-illis.html].

Você não precisa se preocupar, ela é curtinha e pode ser lida em meia hora. Mas se mesmo assim você achar que é muita coisa para ler, eu fiz uma síntese de uma página anexa a este artigo. O que significa o título dessa Carta do Papa, qual é o seu conteúdo etc. não contarei para você. Quero lhe estimular o gosto pela leitura, sobretudo o gosto pela leitura da Palavra de Deus.

Por que não iniciar hoje a ler a Palavra de Deus?

Você poderá iniciar seguindo os textos da Liturgia Diária [https://liturgiadiaria.cnbb.org.br/app/user/user/UserView.php]. Ou então você poderá iniciar pelos Evangelhos. Uma dica: O Evangelho de São Marcos é o mais curtinho com apenas 16 capítulos. [Bíblia on-line: https://www.bibliacatolica.com.br/] Assim que você estiver treinado/a na leitura da Palavra de Deus, eu lhe ensinarei a rezar por meio dela através da Lectio Divina.

Se não for começar agora, quando? Estabeleça uma data. Porém, o melhor é: Mude você mesmo! Comece aqui! Comece agora!


Aperuit Illis é o título da Carta Apostólica com a qual o Papa Francisco instituiu o “III Domingo do Tempo Comum”
como o Domingo da Palavra de Deus para toda a Igreja Católica. Tal carta foi publicada aos 30 de setembro de 2019, memória
litúrgica de São Jerônimo e 1600 o aniversário de sua morte. Aqui no Brasil, bem como em diversos países, anualmente no dia 30
de setembro se comemora o “Dia da Bíblia” e aqui em nossa pátria, desde 1971, celebra-se o mês de setembro como o “Mês da Bíblia”.
O título Aperuit Illis provém da citação “Abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras” (Lc 24,45) e
tal citação abre a Carta Apostólica. Além desse versículo que se encontra no contexto da aparição do Ressuscitado aos Onze (Lc
24,36-49), as principais ideias da famosa perícope evangélica sobre os Discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) perpassa toda a carta.
Jesus Cristo ressuscitado aparece, caminha com os discípulos,
abre-lhes o entendimento para compreender as Escrituras e revela-lhes o sentido do Mistério Pascal ao partir do pão.
Através do conhecimento da Sagrada Escritura se conhece o Cristo, mas, ao mesmo tempo, é através d’Ele que se
compreende profundamente a Sagrada Escritura, uma fonte inexaurível, um verdadeiro tesouro. O Papa Francisco também cita
a Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II e Exortação Apostólica Verbum Domini de Bento XVI, fruto da
Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre “a Palavra de Deus na
vida e na missão da Igreja” em que se fala do caráter performativo da Palavra de Deus na Liturgia e da sacramentalidade da mesma.
O Papa não quer que a Bíblia seja um patrimônio de poucos, pois “A Bíblia é o livro do povo do Senhor que, escutando-a, passa da dispersão e divisão à unidade. A Palavra de Deus une os crentes e faz deles um só povo” (no
4). Ele também insiste sobre a responsabilidade dos pastores em tornar a Palavra de Deus acessível à comunidade, bem como, devido ao
caráter sacramental da Palavra, dedicar tempo à preparação das homilias e à oração da Palavra de Deus, falando com o coração o
essencial ao povo. Nesse mesmo número, o Papa também fala da
importância de os catequistas terem familiaridade com a Sagrada Escritura.
Em Cristo há a unidade da história da salvação; o Antigo Testamento antecipa o que seria realizado em Cristo e n’Ele
a Palavra tem o seu pleno cumprimento. Desse modo, todas as Escrituras falam de Cristo, anunciam-no e quem as escuta na
liturgia, na oração e na reflexão pessoal recebe a fé. Tal fé se alimenta de igual modo da Eucaristia, há uma unidade entre
Sagrada Escritura e Eucaristia, pois, assim como os Discípulos de Emaús reconheceram o Senhor ao partir do pão, o
povo de Deus que está em caminho na história também é chamado a fazer a mesma experiência.
Essa experiência só é possível por meio da ação do
Espírito Santo. Uma ação que não se reduz somente à formação da Sagrada Escritura, mas que continua a realizar

uma forma peculiar de inspiração quando a Igreja ensina a
Sagrada Escritura, quando o Magistério a interpreta autenticamente e quando cada fiel faz dela a sua própria norma

espiritual. Há, portanto, uma unidade entre a Palavra de Deus
e a Tradição, pois antes de ser texto escrito a Sagrada Escritura foi transmitida oralmente e conservada viva por meio da
fé do povo que a reconhecia como regra suprema de fé. “Por
isso, a fé bíblica funda-se sobre a Palavra viva, não sobre um livro” (n. 11).
A Sagrada Escritura permanece sempre nova e toda
ela tem uma função profética que diz respeito ao hoje de
quem dela se nutre. Ela é doce porque traz esperança, amarga
porque é difícil de ser vivida com coerência. No entanto, ela
sempre nos recorda do amor misericordioso do Pai que pede
aos filhos de vivê-la na caridade. A Sagrada Escritura transcende a si própria quando nutre a vida dos fiéis e se, como
Maria, ouvirmos, crermos no seu cumprimento e a guardarmos no coração, seremos bem-aventurados.
A esse ponto, talvez o leitor esteja a se perguntar:
Por que o Papa Francisco instituiu o III Domingo do Tempo
Comum como o “Domingo da Palavra de Deus”? A intenção
do Papa foi estabelecer um dia especial de celebração solene,
reflexão e divulgação da Palavra de Deus. A escolha dessa
data se deu pelo fato de sua proximidade com o “Dia do diálogo judaico-católico” e a “Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos”. O diálogo com os judeus e o ecumenismo (entre os cristãos) têm valores comuns fundados na Sagrada Escritura.


Pe. José Vanol Jr.