17 OUTUBRO 2023

Por Márcio José Pelinski
Diácono da Diocese de São José dos Pinhais – Mestre em Teologia Bíblica (PUCPR)
Professor no Centro Universitário Internacional (UNINTER)


Nas Sagradas Escrituras, temos a Palavra de Deus escrita e transmitida. Os evangelistas que narraram a vida transmitiram por escrito episódios de Jesus que acolhe, cura, abençoa e indica como modelo de atitude de discípulo para o Reino de Deus, as crianças. Na história do cristianismo, muitos artistas plásticos dedicaram obras de arte (pinturas e esculturas) dando uma estética para aquilo que está narrado na Bíblia. Bebendo na beleza da Palavra de Deus, dão ao texto bíblico rostos e atitudes, apresentando outras perspectivas do texto e oferecendo um universo de novas interpretações.

Os evangelhos (Mc 10,13-16; Mt 19,13-15; Lc 16,16-17) narram o episódio em que os discípulos impediam as crianças de se aproximarem de Jesus. Nenhum dos três menciona a presença de Maria neste episódio. Estaria ela ou não no episódio que gerou a narrativa dos evangelhos sobre o impedimento do acesso das crianças?

Sim, Maria estava presente! É a leitura que nossos escultores fizeram em sua interpretação. Mas porque ela não estaria? Se ela é mãe, mulher e discípula com certeza tinha protagonismo na acolhida das crianças que buscavam por Jesus. Com seu sorriso e presença terna, ela providenciou uma solução frente ao impedimento dos discípulos. Deve ter furado as barricadas dos discípulos, passando as crianças por baixo e por cima para que chegassem até o Senhor. Maria é a mulher das necessidades de todos, por isso, na narrativa das Bodas de Caná, leva os empregados até Jesus – aqui nesta escultura, ela acolhe as crianças e as direciona apontando o dedo para Jesus, repetindo o que disse aos serventes do casamento: “Fazei tudo o que ele vos disser!” (Jo 2,5). Maria viveu o discipulado em sua vida e hoje intercede levando as pessoas ao encontro de seu Filho. A missão dela é hoje a missão da esposa Igreja.

Escultura dos Artistas Nivalmir Santana e Maria Helena Fogo Santana

Na obra de arte, como uma “águia esvoaçante sobre o ninho que abre as asas sobre os filhotes” (Dt 32,11) está o Senhor Jesus que recebe e aconchega três crianças: uma que o contempla em seu colo (a menor e que precisa de maior cuidado), outra que chora em seu joelho e uma terceira que está em atitude de clamor. São as atitudes das crianças: pedir, chorar e admirar ante Deus que fazem delas dignas do reino e modelo para todo discípulo! Os grandes braços e o sorriso de Jesus chamam-nos a que o admiramos: “Vinde a mim, vós que estais cansados (e em meu colo) eu vos aliviarei!” (Cf. Mt 11,28).

Continuando a interpretar a obra, na escultura há um menino abaixado que apresenta os cinco pães e dois peixes para a multiplicação dos pães – mostrando que é dos que têm pouco, que surgem as maiores caridades. Diante de uma multidão faminta e dos discípulos atônitos, foi uma criança que ofereceu os dons para a partilha. Neste episódio da multiplicação dos pães, Jesus pede aos discípulos diante do problema: “dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16). É a indicação de Jesus para sua Igreja confiar na divina providência, inspirando tantos cristãos a fazerem de sua vida uma doação.

Com certeza, foi no impulso de fazer a sua parte no Reino, aliado com confiança na providência de Deus que fizeram as fundadoras das Irmãs Beneditinas, Maria e Giustina Schiapparoli (que interpreto como as duas meninas que estão em passo de ciranda, de mãos dadas com Maria) órfãs na infância, com apenas 9 e 5 anos cuidarem dos irmãos menores e, na idade adulta, iniciarem esta obra de acolhida de crianças, hoje espalhada pelo mundo. Uma das meninas está de avental, recordando o serviço e o chamado do Papa Francisco para uma Igreja do avental: toda ela servidora. Por fim, as crianças são um sacramento, uma presença do Senhor entre nós, pois, disse Jesus: “quem recebe uma criança em meu nome a mim recebe!” (Mt 18,5). Cuidemos delas, com o sorriso de Maria e o abraço de Jesus!

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