01 NOVEMBRO 2023
ARTIGO / DIA DE FINADOS
PE. DEOLINO PEDRO BALDISSERA, SDS


Todo ano no dia 2 de novembro celebramos o “Dia de Finados”! Nesse dia um dos lugares mais visitado é o cemitério. Para lá vão todos os que têm alguém lá sepultado. E o que vão fazer lá? Ver seus mortos?! O coração que se achega a uma sepultura, olha para ela para ver a morte? Não, vai ali em busca da vida! Ali revive saudades, lembranças daquele que partiu antes e “ali jaz”! O que se passa no coração dos visitantes de cemitérios nesse dia, cada um sabe! Certamente, uma nostalgia sobe à alma e a deixa um pouco confusa e reclusa, porque ali alguém jaz, mas algo lhe diz que ali “não jaz”! Sua crença projeta a vida para além do túmulo. Os restos mortais que ali estão são um “testemunho” de que a vida habitou aquele corpo, ela não está mais ali, onde estará então? Para os que creem ela se encontra noutra dimensão que a fé consegue alcançar e na esperança um dia reencontrar. “creio na vida eterna...”

Ali diante da sepultura se acendem velas, se depositam flores! A vela acesa é símbolo de que? As flores querem sinalizar o que? A vela é luz que aponta para a vida que se deseja para aqueles que morreram, e se espera que eles a tenham encontrado na Luz plena que o próprio Jesus disse ser! “Eu sou a luz do mundo e quem anda comigo, não fica nas trevas. Quem comigo morre, comigo ressuscita”! Que a luz brilhe para aqueles que já se foram, isso parece significar cada vela acesa. As flores querem ser símbolo do amor que se nutriu por aqueles ali enterrados. É um jeito humano para dizer de algo ficou e que é eterno. Velas e flores, fazem um conjunto que querem traduzir uma saudade que aperta o coração, um desejo de felicidade junto de Deus. Um dizer: você que aí deixamos no dia em que o sepultamos, partiu, mas, continua vivo no coração de quem aqui está acendendo velas e depositando flores.

O cemitério é lugar de mistério! Por um lado, vemos as sepulturas dos que morreram! Não estão mais entre os vivos, que por ali estão perambulando, mas, um “quê” lhes diz: aqui estão sinais da morte, mas a vida não pode estar encerrada nessa sepultura! O cemitério não é a morada dos falecidos, porque não teria sentido visitá-los e levar velas e flores. No fundo da alma de todos, até dos não crentes, existe uma esperança de que a vida não morre! Mas ali, o cemitério parece desmentir, pois só vemos túmulos com inscrições que dizem, nasceu tal dia, morreu tal dia! Parece uma contradição! Vai-se ao cemitério não para ver a morte, mas com o desejo de encontrar a vida dos que morreram. Em certo sentido eles são reencontrados, nas saudades que se sente, nos sentimentos de tristeza por não os ter mais à mão, por não os poder tocar, nem dialogar. Ali, é a voz do silêncio que se comunica com os entes queridos, ali é com a prece que se fala com eles. Tudo num clima de compenetração que pervade a alma e toca o fundo das memórias de sentimentos vividos com eles. O paradoxo é que no cemitério onde “reina a morte” se vai com a esperança de encontrar a vida dos que já se foram. Não fosse a fé e a esperança na vida eterna, ir ao cemitério seria puro masoquismo, tortura psicológica.

O Evangelho nos conta que Maria Madalena, no dia seguinte à morte de Jesus, foi cedo ao sepulcro à procura do corpo d'Ele. Não levava nem velas nem flores, mas perfumes, para ungi-lo com suas saudades e o amor vivido por ser salva por Ele! Chegando lá não o encontrou. Sua primeira reação foi a de que alguém havia usurpado o cadáver. Contudo, é surpreendida pelo Anjo que lhe diz para “não procurar entre os mortos Aquele que estava vivo”! Graças a esse mistério revelado, as sepulturas não são mais sinais de morte, mas lugar de reencontro com a vida em outra dimensão que a Ressurreição de Cristo confere. Podemos então pensar, que ir ao cemitério no “Dia de Finados”, é ir professar a fé na ressurreição dos mortos, como se diz ao rezar o credo.

O cemitério que visitamos é, então, esse lugar da morte e da vida, esse mistério que acompanha cada um até chegar a própria vez de conferir o que se professa e não mais sentir saudade desta vida, porque passou a possuí-la muito mais plena, onde a morte não reina mais. No “Dia de Finados” façamos nossas preces pelos falecidos, acendamos nossas velas e coloquemos nossas flores, tudo, na esperança de reencontrá-los lá onde não existem mais cemitérios, nem há necessidade de velas e flores, porque se viverá a eternidade junto daquele que venceu a morte e ressuscitado prometeu a vida eterna àqueles que com “Ele morrem e ressuscitam”! Que nossa visita ao cemitério, no “Dia de Finados” nao seja apenas reviver saudades, mas seja outrossim, uma manifestação de nossa profissão de fé que alimenta nossa esperança, “creio na ressurreição dos mortos e creio na vida eterna....”