28 NOVEMBRO 2023

ARTIGO: PE. DEOLINO PEDRO BALDISSERA


Alguém que leu um dos meus textos reagiu dizendo: “olhar a vida por outros óculos”. Isso me fez pensar! Nós usamos óculos quando nossas “vistas” ficam fracas. Desfocam a realidade ou mesmo a escondem, não vemos mais direito. Usamos óculos de diferentes graus. Podem ser bifocais, servem para longe e para perto. Às vezes, são substituídos por lentes de contato. Quando nossa visão fica deficiente, não tem jeito, temos que apelar para os óculos ou lentes, se quisermos ver o que há em nossa volta. Há também os óculos para o sol, os famosos “ray-ban”. Esses servem também para dar um certo charme para quem os usa. Aliás, hoje é comum se lançar diferente tipos de formatos de óculos. Alguns são mesmo para ser “modas” para destacar a “beleza”! Muitos artistas são protagonistas de diferentes marcas. Esses atraem imitadores, que os compram, pagando caro, mas a satisfação de os usar e parecer com seus ídolos, lhes dá a sensação de se sentirem mais gente! Podemos dizer então, que há óculos para diferentes finalidades e diferentes ocasiões.

As vezes nossos olhos ficam com cataratas, e nessa condição os óculos podem ajudar, mesmo assim, ficam deficientes. A solução é cirúrgica. O que seria então, olhar a vida por diferentes óculos? Bem, como disse, há aqueles necessários para recuperar a visão e há aqueles apenas para exibir o charme. Necessário mesmo são os primeiros, os outros são dispensáveis, porque não se trata de uma necessidade útil.

Se quisermos usar os diferentes “óculos” como analogia para diferentes situações existenciais, então, podemos fazer algumas elocubrações. Primeiro, se nossos olhos estão saudáveis, não precisamos usar óculos! Em caso contrário aí precisamos deles. Nem sempre é agradável usar óculos, eles embaçam, pesam sobre o nariz, as lentes sujam, deixam marcas onde as “pernas” se apoiam sobre a pele. As orelhas se curvam. Há os incômodos, mas é o preço para manter as vistas, vendo. Na vida também é assim! De vez enquando ela não fica sempre “sadia”. Nem sempre conseguimos manter o equilíbrio sobre ela. Às vezes, vemos bem o que está longe e não aquilo que está perto. Outras vezes, é o contrário nos fixamos no que está perto e ignoramos o que está longe. Nessa situação precisamos de bifocais! Buscar o equilíbrio entre o que está ao nosso redor e o que está distante é condição para uma visão realista! O que pode desfocar nossa vida? São muitas as situações e circunstâncias! Por exemplo, muitos pensamentos, emoções, fantasias, tiram o foco da realidade e nos levam para outras “realidades”. Muitas ilusões nos fazem ver o que não existe, e aí o nosso mundo fica um pouco confuso e difuso. Precisamos de “óculos” que nos re-enfoquem à realidade.

A realidade fica desfocada quando olhamos para ela superficialmente, sem concentração sobre o que ela está realmente nos mostrando. Nosso mundo está cheio de situações em que o torna desfocado. As ambições humanas, desviam o verdadeiro sentido da vida e criam ilusões que não combinam com aquilo que a vida realmente busca e quer. Por vezes, somos vítimas de nossos “olhares” vesgos sobre ela. Nossos “ray-ban” que buscam pela vaidade, nos dão uma imagem falsa sobre nós mesmos. Quando precisamos de exibicionismos para nos sentir gente, significa que ainda não acreditamos suficientemente em nossas possiblidades e nem aceitamos a nossa realidade como ela é. Hoje em dia há um narcisismo acentuado, em que o que vale são as aparências.

Em tais circunstancias os “óculos” pelos quais estamos olhando o mundo é aquele de querer mostrar o que não se é. São aparências que enganam. A vida foi criada para uma finalidade precisa. Há um caminho que para ser trilhado, sem o perigo de desvios. Contudo, esse caminho não somos nós que o traçamos, ele nos foi dado. Seguí-lo ou não, depende de escolhas nossas. Para isso é necessário ver além das aparências. Um óculos essencial à vida, é aquele que nasce de uma fé que nos faz protagonistas não de nós mesmos, mas d'Aquele em quem “fixamos nossos Olhos”, capaz de nos mostrar horizontes de valores que elevam nosso espírito para além das vaidades humanas ou melhor dizendo, dos “narcisismos” que nos centralizam em torno do próprio umbigo. Às vezes, nossas cataratas precisam de cirurgia. Há certos hábitos e atitudes, que nos desviam do caminho, e não há outra saída senão um “ato cirúrgico” que estirpe o mal pela raiz. Não será com jeitinho que vamos resolver. A conversão do narcisismo para o altruísmo pode nos trazer de volta o sentido perdido nos extravios dos caminhos da auto referencialidade.

Então, você que comentou meu texto, tem razão, é “preciso olhar a vida por outros óculos”.